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sábado, 16 de julho de 2011

Quando os brechós e a moda de rua roubam a cena!!!

Nos anos 60 e 70, muito se confabulou sobre como seria o futuro no longínquo ano 2000. Hoje, já passamos por 2010, e temos de concordar que a tecnologia realmente evoluiu bastante, mas ao contrário da valorização do plástico e do descartável, o futuro, ou melhor, o presente é de valorização de elementos vintages.




Vemos essa união do contemporâneo ao vintage na ruas dos grandes centros urbanos, através de blogs, sites e revistas que procuram clicar em tempo real os looks criativos que caminham livres pelas ruas, paralelos à tendência de moda de passarela. Assim, vamos convivendo e assistindo a um novo consumidor, que é ao mesmo tempo autor daquilo que consome. Costumo dizer que essa nova fase da moda, que talvez indique uma nova idade da moda, pode ser traduzida em três conceitos-chave: cosmopolitismo, liberdade criativa e sustentabilidade.



Entendendo por cosmopolitismo, um princípio, uma atitude de ser cosmopolita, de ser cidadão do mundo; por liberdade criativa, tudo o que a mente humana pode conceber, misturar, criar e redirecionar com certo grau de independência em relação a padrões fixos; e por sustentabilidade, um princípio, segundo o qual o uso dos recursos naturais de hoje não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras.



E é com base nesses conceitos que temos visto novas formas de expressão e comportamento urbano, exemplo disso são os Cycle Chics, tribo vinda da europa ocidental, cuja filosofia tem encontrado eco em diversas partes do mundo (e, sobre a qual escrevemos matéria recente). Essa nova onda avança propondo alteração também no conceito de moda, no sentido de apresentar moda como uma manifestação livre, ligada ao comportamento de arte.



Há, sim, continuidade na valorização de grandes marcas, mas há algo maior, que é a valorização de conceitos, de décadas, de história da moda e da exclusividade de peças que não existem mais… Nessa história entra um novo ator, que aparece muito mais valorizado na “nova era”: os brechós! Os brechós deixam de ser espaços de “coisa usada”, para se transformar em espaços de pesquisa de acervo, consumo sustentável e moda criativa. A Roteiro da Moda foi atrás desse novo conceito e desenvolveu uma conversa com um estilista que traz a “cara” da nova era para suas produções: Tony Jr.



A marca Tony Jr Vintage Deluxe assinada pelo estilista Tony Jr engloba peças de criação do estilista com um grande acervo do seu brechó. A proposta de Tony é justamente a união do acervo vintage às suas próprias criações.

A loja encontra-se localizada no bairro bucólico Vila Mariana, em São Paulo. Lá é possível encontrar peças desenhadas pelo estilista, além do acervo do brechó para venda e locação. Está dividida em dois andares, o térreo, destinado somente às mulheres, e o piso superior, dividido em dois espaços, um exclusivamente voltado para o público masculino e o outro para peças de acervo e figurino. Ao fundo da loja, funciona o ateliê, onde Tony desenvolve peças sob medidas e com toque de exclusividade, além de customizar peças garimpadas para seu brechó.




A visita valeria a pena somente pela simpatia da loja, que abriga além de um acervo espetacular, uma estrutura aconchegante e convidativa às compras. A riqueza da loja está nos detalhes, na dedicada decoração que o ambiente comporta, além do conforto agradável do café retrô localizado ao fundo da loja. A sensação é de realmente estarmos fora do tempo, sem sabermos ao certo se voltamos ao passado ou se viajamos ao futuro, quando todas as tendências de décadas se encontrarão.

A Roteiro da Moda trouxe uma entrevista com o estilista:




RM: Tony, fale um pouco sobre Tony Jr, o estilista. Onde você pesquisa? Quais artistas você tem como referência? Fale um pouco sobre o seu trabalho de estilista…



TJ: Eu procuro muito nas ruas as referências, olho o que as pessoas estão usando. Eu não estou mais querendo criar uma peça que ninguém nunca fez. Eu quero fazer o que as pessoas querem usar. Isso que mudou. Estou mais focado no comercial, mas não numa visão careta, e sim numa visão de querer satisfazer os desejos da estação

RM: Olhando para sua loja, vemos que tem uma parte que é criação, tem uma parte que é mais conceitual, outra mais comercial, tem uma parte que é de garimpo de peças interessantes, uma outra que é figurino… Como você definiria o trabalho que você faz?




TJ: A parte mais conceitual veio de desfiles. Hoje, eu não tenho mais esse compromisso. A criação não para, mas, eu não me prendo a um tema e nem a idéia de fazer toda uma coleção, cores, etc., etc. dentro desse tema. Minha criação é livre.



Eu diria que meu trabalho é muito cansativo. Mentalmente cansativo. Praticamente, tenho que ter uma memória fotográfica das peças. Onde está essa ou aquela peça, se eu ainda a tenho e quanto é… É um trabalho desgastante. Tem peça que eu bato olho e penso “é acervo”, outras “pessoal”, outras “tendências” porque são vários segmentos dentro de um mesmo nicho.



Hoje, eu quero continuar com meu acervo e buscar sempre ampliá-lo. Eu pesquiso história da moda através das roupas.



RM: E a parte de pesquisa de acervo? Como você faz essa pesquisa? Onde você garimpa tanta coisa? Porque sua loja vai muito além de vestuário. Tem verdadeiras relíquias entre um objeto decorativo e outro… De onde vem todo esse acervo?



TJ: Eu encontro em vários lugares inusitados. Posso ir num ferro velho e encontrar! Já encontrei muita coisa em lixo, em caçambas e na casa de pessoas que se mudam e vendem tudo.




RM: Quando falamos sobre tendência de moda, de comportamento, acho que até do conceito do que seja moda para o futuro, você pensa em quê? O que você espera da moda para os próximos anos?




TJ: Acho que são duas coisas. Existe um mercado de luxo, as Maisons. Isso sempre vai existir porque tem muito investimento por trás. Mas, o Fast Fashion vai ser cada vez mais procurado. Até porque essas lojas têm agregado os grandes estilistas para criar para elas. A segunda coisa é a sustentabilidade. O sistema vai precisar atentar para isso. Acho que a indústria vai reduzir a produção. A gente vai ver “Diga não aos grandes shoppings” ou “Diga não ao made in China”.



Acho que vamos retornar ao tempo em que as pessoas reformavam suas próprias roupas. Posso estar sendo louco, mas… (rs)



Acho que as lojas como Fórum, Ellus, etc. vão precisar mudar de estilo, porque o consumidor mudou, não é mais a minha geração dos anos 90, que procurava estrutura, indústria e vitrine. Hoje, o consumidor procura história nas peças que compra. Acho muito mais interessante ir a uma feirinha de roupas e arte do que a um shopping para fazer compras.



Acho que por isso, a moda vintage tem encontrado força. Algodão, linho, cashmere estão mais em alta. Acho que a juventude quer buscar aquilo que ela não viveu.



RM: Você arriscaria falar que a alta costura vai deixar de existir?



TJ: Não. É também uma questão de ego e de jogo de poder e dinheiro. Paris quer continuar a capital da moda, sem contar o dinheiro que a alta costura faz girar. Mas, isso não quer dizer que vá ter clientes.



Porque o vintage também dá exclusividade e bom acabamento nas peças. Não é roupa usada.



O vintage permite o mesmo luxo da exclusividade, e o conceito de luxo está mudando. A Brastemp está fazendo uma linha retrô. Porque esse novo consumidor quer viver isso. Quer viver um ar do passado e isso tem refletido em tudo: carro, roupa e design.


A loja encontra-se na rua Humberto I, 999. Vila Mariana. São Paulo/Sp. Tel: (11) 2574-1337.





















TonyJr e Brechó Vintage de Luxe Rua Humberto I, 999, Vila mariana , São Paulo, Sp. Tel: (11) 2575-1337 Tony Jr no facebook